"Pequena Lumina"

Com um pouco de esforço, a senhora foi tateando em meio àquela luz fraca na busca por seus óculos de leitura, enquanto sua netinha se aconchegava entre as cobertas de sua cama, esperando ansiosa para ouvir mais um conto de fadas.
- Vovó, hoje você vai ler a branca de neve pra mim? Eu gosto muito dela...
Um leve sorriso espalhou-se pelo cômodo. A senhora então caminhava em direção à uma pequena estante que guardava vários livros infantis, desde folclóricos aos que nunca ninguém poderia imaginar, livros que somente em uma cidade como aquela é que encontraríamos. O olhar de dona Guilhermina pousou sobre uma velha luminária, escondida dentro de um guarda-roupa entreaberto. Foi ai que teve a certeza que era esse o dia, a hora de revelar à sua amada neta, uma grande lenda.
- Não Amanda, hoje no que irei te contar não haverá nenhum anão, nem princesa alguma, porém será algo que nunca mais você esquecerá.
Os olhinhos da criança logo brilharam de felicidade e ela se preparou para outro mundo, o mundo irreal da fantasia, aquele que vinha de sua imaginação.
- Há muitos anos atrás, houve um casamento entre um lavrador e uma artesã. Naquela época, o dinheiro era difícil e o trabalho era muito, mesmo assim nada impediu a união dos dois. Passou-se o tempo e a mulher começara a sentir dores muito fortes, adoeceu de tal maneira que não podia nem mais tricotar. Estava destinada a viver o resto de sua vida em uma rede. Os médicos vinham de todas as cidades vizinhas e nada tinham a dizer sobre o caso. Alguns meses depois em um longo sono pesado, a artesã conseguiu, depois de vários e vários anos, sonhar. Mas algo incomum à mente dela... Vira uma paisagem que nunca conseguiria imaginar, linda... Um lugar perfeito. Um bosque, verdinho e cheio de flores, com corredeiras de água límpida e animais dos mais exóticos. Ela atentou aos sons que se produziam, o tintilar de pequenos sininhos que não se sabia de onde vinham, a água corrente, e os pássaros, ah sim, os passarinhos! E procurava encantada por um, que veio voando suavemente para perto. Ela franziu a testa tentando entender o que ele parecia querer dizer, aquele maravilhoso passarinho vermelho sangue com azul. Sim, ele cantava de uma bela forma a palavra “luúminaaa”. Quando deu por si, ela viu seu corpo se iluminar, sentiu uma alegria que nunca antes teve, brotando de seu ventre! Então entendeu que dali nasceria uma pequena menina que se chamaria Lumina, que alegraria para sempre o seu coração. Ao acordar toda aquela grande e boa emoção passara, ao sentir pontadas fortes e dores piores do que tivera em todos os dias em que estivera doente. Seus gritos acordaram a vizinhança, que veio em seu socorro, que presenciou ao desfalecimento de seu corpo. Quando voltou a si, seu marido estava ao seu lado segurando sua mão, com o semblante de alguém que chorara muito. Aos poucos começou a ouvir o que se passava, e ouviu o choro de uma criança ao longe.
“- Que se passa? O que me aconteceu? Não sinto mais nenhuma dor!
         - Amor! Que felicidade! Pensei no pior, que nunca mais a veria acordada novamente, me perdoe por tudo! Querida, a verdade é que todas as dores vinham de uma gravidez, que nós nem imaginávamos! É uma linda menininha!”
E trouxeram-lhe a garotinha para que a amamentasse. A nova mamãe ficara sem palavras, somente observando quão linda era a criança, perfeita, sem nenhum defeito. E chamou-a por “cheia de luz” (Lumina).
         A pequena Lumina foi crescendo, e em tudo se demorava, à andar, à falar, até mesmo à brincar. Mas aos cinco anos tudo se normalizou, ou quase tudo. Lumina na realidade era só tristeza! A menina não via nada de bom na vida, não queria mais brincar, relutava a comer... E deixou sua mãe preocupada, sem entender a promessa de seu sonho, que a garota traria muita felicidade. Com isso ela se desgostou da filha, não dava mais carinho, nem cuidava como deveria. Lumina começou a gostar de ficar sozinha, queria cada vez mais caminhar desacompanhada pelos bosques em busca de algo que nem sabia o que era. E em uma de suas saídas pela floresta ela se perdeu... Perdeu-se ouvindo alguém chamá-la! Mas não era uma simples convocação, era um canto! Era música aos seus ouvidos, tão bela que a fazia rodopiar pela trilha, dançando e esvoaçando seus cabelos pela mata. A cada passo que dava a sua alegria aumentava, era um grande poder, que iluminava a floresta cada vez mais, transformando-a aos poucos. Pó iluminado caia de suas vestes, enquanto ela chegava ao seu ponto final, começava a desaparecer, sumindo aos olhos do mundo, e entrando em sintonia com o lugar onde o passarinho que dizia “Luúminaá” estava.
         - Nossa vovó! E os pais dela? Como ficaram? Ela morreu?
         - Eles notaram que ela havia desaparecido e fizeram buscas pela floresta, e somente o que encontraram foram pequenos grãos de luz espalhados pelo chão em uma trilha que não ia a lugar algum. No começo a tristeza fora grande, mas aos poucos os pais entenderam que a felicidade não deve ser procurada, que ela está embaixo do nosso nariz, que nós devemos ser felizes pelo que temos e cuidar do que amamos. Não deixar o que gostamos desaparecer como a Lumina. Foi duro para eles ter que aprender perdendo. Ainda é.
         - Mas vovó, a Lumina é uma lenda? Ou é verdade o que aconteceu?
         - Dizem que quando uma criança está muito triste, Lumina aparece dentro da floresta a chamá-la, para trazer felicidade para ela... É o que me falam... Então por favor, nunca fique triste, eu não suportaria...
         E dentro do coração da velha senhora, a lembrança da última vez que vira sua pequena Lumina, enquanto uma lágrima escorria por sua face.


De minha autoria, 07/03/2011

Um comentário:

  1. Amiga,ameii essa história ela nos faz refletir muito a nossa vida, realmente não devemos procurar a felicidade porque ela já está em nós apenas devemos silenciar e sentir, a alegria de Deus em nós. Lays.

    ResponderExcluir

Comentar a publicação: